Quando a gente acha que falta pouco pra terminar de arrumar o quarto de 1m96cm x 2m04cm, a gente volta na sala e tem mais umas 8 malas. Aff! E a terceira latinha de Skol (leia-se Ixcól!) também não tá facilitando as coisas...
"Meu nome é Kátia Flávia, a gotiva do Irajá, me escondi aqui em Copa..."
Ou melhor dizendo, no Bairro Peixoto.
Engraçado, me mudei tantas vezes que, cada vez que tô criando raízes, levanto vôo e aterriso em outro lugar. Tenho uma sensação de que meu lar ainda não é esse aqui, que tem alguma coisa ali, no horizonte, me esperando...
E depois dessa loucura da mudança - que vai longe! - me sinto como uma estranha na cidade em que moro. Às vezes tenho certeza que é porque eu não tenho ainda 1 ano de Rio, outras é porque nem mesmo a Porto Alegre eu pertencia. Hoje recebi um comentário especial sobre o post de ontem, e acho que contempla muito o que eu tenho sentido, o que realmente me representa.
Aqui vai uma livre edição do que recebi.
"Identifiquei na tua concepção de "viagem" uma relação com o mito de
Jasão, conheces? Pode-se dizer que há duas concepções de viagem que são
mais presente na nossa cultura: uma está relacionada ao arquétipo de
Ulisses e a oura ao arquétipo de Jasão.
(...)
Jasão é o lider dos argonautas, faz o elogio da errância e do
desenraizamento, ou seja, da abertura ao mundo. O que importa pra ele (e
pra ti) é a viagem de ida, a imobilidade, o anonimato, o nomadismo (há
dois tipos de nomadismo, o circular e o da flecha). Tuas viagens põem em
xeque as certezas de pertenças a um só lugar. As pessoas que revivem o
mito de Jasão precisam do movimento para poder viver.
(...)
De certa forma, o que nós dois encontramos na viagem é a busca pela
identidade ou a sua negação. Tanto em Ulisses quanto em Jasão, a viagem
transforma, seja para reafirmar a identidade ou para negá-la e
reconstruí-la. O mito da viagem, ou seja nossa motivação para ela, está
no contato com a diferença, na busca de respostas para nossas próprias
questões. Viajar é tornar-se outro, oportunizando a descida ao interior
de si mesmo. O que importa não é a ida ou a chegada, mas a travessia..."
Hoje eu sinto muita saudade dos meus amigos e da minha família, do lugar em que nasci e do Rio Grande do Sul como um todo. Sinto lá no fundo do peito o quanto posso me sentir em casa cada vez que eu pisar lá.
Mas por outro lado, me sinto nômade, me sinto anônima, me sinto maravilhosamente desenraizada, pertencendo ao despertencimento, absolutamente aberta para o que a vida quiser me trazer...
Aproveitando a descida ao interior de mim mesma, e me deliciando na travessia. O caminho, pra mim, é a felicidade.